Por que a Campanha da Fraternidade de 2021 está gerando tanta polêmica?

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Campanha da Fraternidade 2021 é ecumênica e prevê o diálogo como forma de combate à violência

Grupos extremistas acusam “setores da Igreja Católica” de estarem trabalhando contra o Brasil e pelo marxismo. Campanha ecumênica prega o diálogo e a não violência inclusive, contra minorias

 

Por Elaine Oliveira

A tradicional Campanha da Fraternidade é uma ação existente dentro da Igreja católica brasileira desde 1960. Nela, a cada ano, a Igreja aborda um tema social para ser trabalhado entre os fiéis.

Além do debate e aprofundamento num tema, a ação culmina em uma arrecadação, entre os católicos, no domingo de ramos, para que o dinheiro arrecadado seja usado em projetos sociais que trabalhem, ou tenham relação, com o tema proposto, no sentido de promover a caridade.

Porém, em 2021, o lançamento da Campanha da Fraternidade, na quarta-feira de cinzas, ou mesmo sua apresentação, dias antes, vem gerando muita polêmica. Com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e como lema o trecho da carta de Paulo aos Efésios: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14) a Igreja Católica quis dialogar, como um compromisso de amor, para pregar o fim da violência. Desse modo, o texto base da Campanha da Fraternidade incentiva a proteção de grupos como os chamados de LGBTQI+ que são um dos mais atingidos por atos violentos. E daí veio a polêmica.

 

O que causou a polêmica

A Campanha da Fraternidade de 2021 começou sob ataques nas redes e ações de boicote. A cruzada é promovida por grupos católicos ultraconservadores que deduziram do convite a não violência a associação com temas como a defesa do aborto, do casamento entre homossexuais, e daí com outros temas que não fazem parte da comunicação esperada pela Conferência Nacional dos Bispos, ou CNBB, responsável pela campanha.

Os ultraconservadores se revoltaram contra o documento que explica as motivações da Campanha de 2021, principalmente em relação ao parágrafo que faz a seguinte afirmação: “Outro grupo que sofre as consequências da política estruturada e da criação de inimigos é a população LGBTQI+”.

O documento traz dados do Atlas da Violência e da ONG Grupo Gay da Bahia para denunciar que 420 pessoas desse grupo foram assassinadas em 2018, e argumenta que “esses homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”. (Dados de artigo do jornalista Raphael Veleda, do Jornal Metrópoles, em 14/02/21).

Esses grupos extremistas pedem aos católicos para não contribuírem com a Campanha da Fraternidade.

Reação da CNBB

Diante da polêmica, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiu uma carta aberta ao público, em 09/02, que você encontra no site do Jornal das Gerais, na íntegra, reafirmando os princípios de diálogo e fraternidade da Campanha. E que essa não seria a primeira vez que tal movimento sofre represálias, sendo, no entanto, “indispensável para a história da evangelização no Brasil”. A comunicação foi assinada pelo presidente da CNBB, Arcebispo de Belo Horizonte, D.Walmor Oliveira de Azevedo, pelo vice, Arcebispo de Porto Alegre, D. Jaime Spengler, pelo 2º vice-presidente, Bispo de Roraima, Mário Antônio da Silva e pelo secretário-geral, Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, D. Joel Portella Amado.

Como se desenvolve a Campanha da Fraternidade

Tradição católica desde a década de 1960, a campanha é promovida anualmente no período da quaresma, e tem sido realizada em versão ecumênica (convidando outras igrejas cristãs) a cada cinco anos, desde 2000.

Nesses anos específicos, como é o caso de 2021, a CNBB divide a organização da campanha com o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), do qual representantes católicos também são integrantes.

Além da parte assistencial da campanha, a mesma ainda promove as novenas nas residências, com o debate do tema e orações entre os fiéis. Algo que não acontece em grupos, neste ano, devido à pandemia. No ano passado, devido à proximidade de decreto de estado de calamidade pública em saúde, no Brasil, em março, a Campanha foi cancelada.

 

Entenda a sigla LGBTQI+

L: lésbica, mulher que se identifica como mulher e tem preferências sexuais por outras mulheres.

G: gays, homens que se identificam como homem e têm preferências por outros homens.

B: bissexuais, que têm preferências sexuais por ambos os gêneros.

A segunda parte, TQI+, diz respeito ao gênero:

T: transexuais, travestis e transgêneros, que são pessoas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino atribuídos no nascimento com base nos órgãos sexuais.

Q: questionando ou queer, palavra em inglês que significa “estranho” e, em alguns países, ainda é usado como termo pejorativo. É usado para representar as pessoas que não se identificam com padrões impostos pela sociedade e transitam entre os gêneros, sem concordar com tais rótulos, ou que não saibam definir seu gênero/orientação sexual.

 

 

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