Lockdown não era estratégia prevista por gestores da região
O lockdown não era a estratégia prevista pelos prefeitos e secretários de saúde da microrregional de Poços de Caldas para o combate ao novo Coronavírus.
Em reunião realizada em Santa Rita de Caldas na tarde de ontem, 15/03, entre os prefeitos e secretários de saúde de Albertina, Andradas, Caldas, Ibitiúra de Minas, Poços de Caldas e Santa Rita de Caldas, e mais o município convidado Ipuiuna, os gestores chegaram à conclusão de que o fechamento do comércio não seria a solução mais adequada, nesse momento, para conter a disseminação do novo Coronavírus.
O prefeito de Poços de Caldas, Sérgio Azevedo chegou a dizer que “só fecharia o comércio da cidade mediante ordem judicial”. Ideia que foi consenso entre todos os presentes.
Segundo os prefeitos, “o comércio já estava demasiadamente sacrificado com a crise gerada pelo coronavírus”. E ainda, a maioria das denúncias de descumprimento das normas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde não eram originadas de estabelecimentos comerciais, e sim, verificadas em festas clandestinas e familiares. Desse modo, decidiram reforçar algumas medidas, mão não fechar os comércios.
Dentre as iniciativas estabelecidas na reunião, ficou estabelecido que:
Todos os comércios seriam fechados, de segunda à sábado, das 21 horas às 5 horas da manhã, e nesse período, estaria suspensa a circulação de pessoas. No domingo, o fechamento seria previsto para as 15 horas, entre todos os municípios representados na reunião, para que não houvesse aglomeração em locais onde a os estabelecimentos continuassem abertos. Os estabelecimentos que servissem refeições, e que tivessem seus expedientes ao público encerrados nesses períodos, poderiam continuar trabalhando de modo delivery, com as portas fechadas. Os jogos de futebol amadores, os esportes coletivos, também seriam suspensos.
Além da parte prática, os representantes dos municípios também decidiram que um manifesto, assinado por todos os presentes, seria enviado à microrregional de saúde e, posteriormente, ao governo do Estado, objetivando pressionar as autoridades estaduais e federais a fornecerem as vacinas para os municípios, e não deixar o ônus das vacinas para os orçamentos locais. Na reunião, somente um município sinalizou que dispunha de recursos, nessa data, para a aquisição de vacinas. Os demais, todos foram taxativos em afirmar que, ainda mais pela diminuição na arrecadação em função da pandemia, não tinham condições de adquirir imunizantes para todas as suas comunidades.
Atuação dos governos executivos estaduais e federais pelos prefeitos
A atuação do governo estadual e federal foi criticada pelos gestores municipais, em diversos momentos. Eles alegam que os municípios receberam recursos para a manutenção das despesas com Covid somente em 2020. E que, nesse ano, nenhum centavo foi repassado para compensar os municípios que têm sofrido com o aumento do consumo de serviços de saúde, dentre outras despesas extras, em razão do Covid.
Um exemplo desse aumento foi o relatado por gestores de hospitais e de santas casas presentes à reunião. Um deles chegou a afirmar que um par de luvas, que era comprado em março de 2020, a R$ 0,12 centavos, hoje não é vendido a menos de R$ 1,00. Esse foi, segundo ele, somente um exemplo de tudo o que vem aumentando na cadeia de remédios e insumos dos serviços de saúde. E mesmo com o preço em alta, alguns itens ainda não estão disponíveis no mercado. Assim como a mão de obra.
Falta de profissionais de saúde no mercado
Outra preocupação dos gestores municipais e dos atendimentos de saúde é a falta de profissional para trabalhar no enfrentamento da pandemia. Segundo vários testemunhos, faltam médicos e enfermeiros para atuarem nos postos de atendimento. E os que estão em atividade, estão excessivamente cansados, beirando ao esgotamento. Daí a pouca efetividade, segundo alguns presentes, que poderia ser gerada com o aumento de leitos. Haveria condições físicas, mas não humanas, de se “tocar” os atendimentos.
Todas as medidas foram consensuais e seriam, na visão dos prefeitos, uma forma de que todos os municípios tivessem protocolos únicos e, dessa forma, mais eficientes e fáceis de serem respeitados, e uma tentativa para baixar os números de contaminação, que têm sido crescentes nas últimas semanas.
Antes de adotarem as medidas estabelecidas, veio o decreto de lockdown do governo Zema
Mas, nem deu tempo dos prefeitos atualizarem seus decretos com essas resoluções tratadas na reunião promovida durante toda a tarde em Santa Rita de Caldas. No início da noite, o governador Romeu Zema anunciou durante reunião com gestores de municípios de outras regiões mineiras, e também com representantes da Associação Mineira de Municípios- AMM- que decretaria, a partir da próxima quarta-feira, 17/03, a “onda roxa” para todos os 853 municípios mineiros.
Nessa fase do plano Minas Consciente, criado no início do mês pelo governo mineiro, os protocolos chegam ao nível máximo de restrições, até o momento. Nela, nenhum comércio classificado como não essencial pode funcionar pelos próximos 10 dias. Ou seja, segundo o decreto do governador Zema, permanecerão abertos somente os supermercados, padarias, peixarias e açougues. Os bares e lanchonetes não podem vender no balcão, somente através do sistema delivery, onde os produtos são encomendados por telefone, e o comprador consome os produtos em casa. Além dele, drogarias, postos de gasolina, lojas que vendam alimentos para animais, de construção (ferragens, materiais elétricos, hidráulicos, vidros), óticas, lavanderias, clinicas veterinárias, lojas de peças, insumos, oficinas e implementos agrícolas, auto elétricas e borracharias, concessionárias, empresas ligadas à provedores de internet, revendedoras de gás, serviços funerários, contabilidade e cartórios.
Não podem abrir, durante a duração desta onda, salões de cabeleireiros, clínicas de estética, manicures e pedicures, feiras, eventos esportivos, religiosos, parques e circos, escolas, aulas de reforço, creches, clubes, academias de ginástica e afins, casas de shows, boates e danceterias, lava-jato, auto escolas, lojas de bicicletas e floriculturas.
As medidas, originariamente, são previstas para 15 dias. Após esse período, serão novamente avaliadas, podendo ser suspensas ou renovadas.