Diz o poeta que a beleza está nos olhos de quem vê.
Dessa forma, a poeira, o sol escaldante, os morros e longos trajetos percorridos a pé podem ganhar notas de beleza se vistos com a tamanha devoção que os carreiros tem em perpetuar este hábito tão rude e tão singelo que é o de manter vivas as lembranças do passado.
Passado onde os bois não eram somente um animal de estimação, mas eram parceiros na lida da terra, do arar do chão que receberia a semente. Fundamental no sustento da casa.
As lembranças do pai com a vara de ferrão liderando a tropa, assim como liderava a família, os hábitos de todo mundo na casa. A vara simbolizava a condução. Alguns usam a vara com violência assim como levam a vida. Mas, a cada um cabe o peso do julgamento. Se não dos homens, sim de Deus.
Outro hábito comum em tempos passados, o de tirar a friagem, ou de curar a gripe com uma pinguinha, que nem era chamada de cachaça. Isso é coisa dos tempos modernos, e vem hoje ganhando ares mais dourados, se transformando numa gelada, servida com generosidade pra receber bem os visitantes e confraternizar. É festa que se forma não mais nos terreiros de casa. Mas, em acomodações criadas para receber os carreiros e suas famílias. Vale comer de pé, se escondendo da chuva, nada que tire o brilho da reunião que é, muitas vezes, a verdadeira festa pros carreiros.
Antigamente, os carros levavam e traziam mantimentos, e até as notícias, mantendo atualizados os casos de uma vila pra outra. E hoje essa função é ocupada pelo celular no trajeto, que também cumpre as vezes de registrar a viagem e mantendo a comunicação com quem ficou em casa.
Muitas vezes, por dias, até chegar ao desfile no domingo, e mostrar o talento da boiada, ensinada. Ou a que começa nos primeiros repasses.
E quando vemos os pequenos carreirinhos copiando os pais, os tios ou avós, entendemos a beleza desta tradição que é a de matar a saudade e manter viva a história do homem e da mulher sertanejos.