Agora, o prefeito suspendeu por 30 dias a lei que tinha sancionado em abril, que proibia o tráfego de bitrens e treminhões por Ipuiuna
Novela é o nome que se dá a um gênero literário cujas histórias são compostas por vários capítulos. Uma hora a mocinha vira vilã, rouba o marido da outra, ou se torna novamente o doce do início da história. Sempre com o objetivo de prender a atenção do leitor com acontecimentos inesperados.
Traduzindo esta analogia para o cenário ipuiunense dos anos de 2020, é de vários capítulos que tem se constituído a novela da proibição ou não do tráfego de bitrens e treminhões pelas estradas do município de Ipuiuna. Faz três anos que acontece uma sucessão de fatos novos, ou repetitivos, dependendo da ótica que se avalia.
Tudo começou em 2017, depois que os moradores das áreas cortadas pelas estradas vicinais, e usuários em geral, reclamavam do excesso de poeira, do incômodo à passagem de outros veículos, prejuízos causados ao trecho pavimentado que liga a sede do município ao bairro do Tamanduá, uma das áreas mais produtivas de Ipuiuna, dentre outras críticas às chamadas “carretas” que passavam pela região para transportar os eucaliptos plantados no município.
Assim, a vereadora Ruth Torres propôs o projeto que previa a regularização do trânsito de cargas superiores à 24 mil quilos. Projeto que, depois de aprovado pela Câmara, foi vetado pelo prefeito José Dias de Melo. Ele explicou à época que havia feito um acordo com uma das empresas que mais utilizava esse tipo de veículo.
Segundo ele, o acordo previa uma ajuda ao município, em contrapartida da liberação da passagem das máquinas pesadas. Acordo que gerou muita discussão na casa de leis, principalmente, pois o executivo e legislativo não parecem ter ficado muito satisfeitos com o que foi recebido da empresa.
Em março deste ano, o tema voltou à Câmara que propôs novamente projeto semelhante que, no final, em termos práticos, previa a mesma coisa: a proibição da passagem de veículos classificados como bitrens ou treminhões carregados pelo município. E dessa vez, chegou a ser sancionado pelo prefeito.
Mas, em menos de um mês após a sanção, o mesmo prefeito suspendeu por 30 dias a lei que ele mesmo acabara de sancionar. O argumento, dessa vez, foi o mesmo: “Foi suspenso devido um acordo entre o Executivo, o Legislativo e as empresas envolvidas, onde estas últimas se comprometem a fazer as devidas manutenções das estradas sempre que necessário, além do recolhimento dos devidos impostos aos cofres públicos, enquanto durarem os trabalhos de transporte de eucaliptos no município”, como informou o próprio prefeito a nossa reportagem. Mas, não apresentou nenhum papel, contrato, enfim, documento onde ficasse firmado este acordo, pois, acordo de boca, hoje em dia, nem os mais singelos acreditam.
No ano passado, as carretas que usavam as estradas de Ipuiuna transportavam eucalipto de outro município, não gerando receitas para Ipuiuna, e não foram proibidas.
Agora, em 2020, o corte de eucaliptos ocorre em terras ipuiunenses, gerando receitas para o município.
Alguns vereadores entrevistados disseram que preferiram ficar com o pouco garantido (do prometido pelas empresas que fazem uso desses transportes) do que correr o risco de ficarem sem nada. A explicação para isso, segundo estes entrevistados, é a de que se forem proibidos de utilizar os veículos maiores, as empresas de corte de eucalipto teriam que redistribuir a carga para trucks, caminhões menores que, por sua vez, dariam muito mais viagens num mesmo dia para levar a mesma carga das carretas, e, consequentemente, poderiam também estragar mais as estradas pelo tráfego intenso. Sem se comprometerem, no entanto, a arcar com nenhuma obra de manutenção nas estradas.
Agora, a dúvida que não quer calar é: por que não ter pensado nisso há menos de 30 dias, antes de aprovar e sancionar o projeto? Ou não imaginaram esse fim para essa novela? De que as empresas, de uma maneira ou de outra, retirariam o eucalipto das terras ipuiunenses?
Voltando à realidade, a sensação de que se tem nesse momento, em Ipuiuna, é de que as leis são voláteis. Não são feitas para durar. Não houve nenhuma comunicação, por parte da Prefeitura, à comunidade local, da suspensão dessa lei. Só depois que a população começou a denunciar a passagem das carretas, pelos aplicativos de mensagem, acreditando que a lei ainda estivesse em vigor, é que as placas que indicavam a proibição foram cobertas por lonas. A população via as placas e perguntava ao Jornal se não havia sido feita uma lei para barrar o tráfego desse tipo de veículos, já que sempre noticiamos os acontecimentos dessa novela.
Se esse acordo não vingou da outra vez, uma vez que o prefeito se movimentou em criar um amparo legal para impedir a passagem dos bitrens, no momento da sanção ao projeto agora em abril, será que ele mesmo imagina que esse acordo será cumprido agora? O que mudou? Ou será que, além de novela, ela ainda tem que ser mexicana? Além das idas e vindas, conhecida por seus rompantes a cada momento, cheios de emoção?
Será que teremos um final feliz para as estradas de Ipuiuna?