Cerca de 2 mil alqueires da cultura são mantidos no território ipuiunense
O prefeito Elder Cássio de Souza Oliva quer rever a contrapartida das empresas que realizam a exploração e transporte de eucaliptos no município de Ipuiuna. Ao todo, cerca de 2 mil alqueires da cultura são mantidos no território ipuiunense.
Essa contrapartida é algo que vem acontecendo nos últimos anos, e, na prática significa a doação de materiais por empresas ligadas ao cultivo do eucalipto ao município a título de compensação pelos estragos gerados nas estradas locais. Neste acordo entre iniciativa privada e setor público são doados materiais como cascalho ou óleo diesel para o trabalho das máquinas, quando esse é realizado pela prefeitura, para fazer os reparos. E tem ainda o serviço de umidificação feito pelas empresas nas áreas da estrada que possuem moradores muito próximos, e sofrem com a poeira gerada pelo transporte pesado.
Em março de 2020, uma lei foi aprovada na Câmara de Ipuiuna proibindo o transporte de carga superior a 24 mil quilos pelas estradas da localidade, através dos chamados bitrens ou treminhões, prática que se mostra inviável, financeiramente, para os exploradores de eucalipto, já que essa atividade gera uma carga muito pesada, além da grande área que precisa ter a madeira cortada no município. Em abril, a mesma lei, sancionada pelo prefeito à época, José Dias de Melo, foi suspensa por prazo determinado.
Para adequar a passagem dos chamados bitrens ou treminhões, representantes da cadeia exploradora dos eucaliptos no município propuseram à gestão municipal a doação de uma determinada quantidade de material e óleo diesel, considerada necessária, então, para a recuperação da estrada. Desde que essa lei (a que proibia cargas superiores a 24 toneladas) não vigorasse, pelo período de dois meses. Assim, a lei foi suspensa e a proposta foi aceita pelo executivo, com a votação em plenário por unanimidade dos vereadores da Câmara, e como alguns vereadores até mencionaram na reunião, “para que o município recebesse alguma compensação, ao invés de nenhuma”.
Dessa forma, desde o ano passado, as carretas que realizam o transporte da madeira transitam normalmente pelas estradas do município, principalmente, por aquela que dá acesso ao bairro rural do Tamanduá, umas das mais frequentadas da zona rural ipuiunense. E que, inclusive, teve alguns morros, e pontos mais críticos, pavimentados ao final da gestão passada.
Agora, ao assumir a prefeitura, o novo chefe do executivo chamou para uma conversa representantes da cadeia exploratória do eucalipto no município, para “rever” essa contrapartida oferecida à Ipuiuna, já que, a exploração da madeira que, primeiramente, deveria ser feita num prazo de 60 dias, continua sendo feita até hoje, mais de 6 meses depois desse acordo firmado entre iniciativa privada e gestão pública. Mas, a conversa não foi muito amistosa.
Testemunhas contaram, e até vídeos circularam pela internet, mostrando o prefeito Elder discutindo, no dia 18/01, com um dos presentes na reunião que, na verdade, não é representante da empresa que processa o eucalipto, e sim, um dos funcionários de uma das fazendas que vendem o eucalipto para a multinacional que processa a madeira. E esse mesmo interlocutor que esteve presente nas negociações com a prefeitura, no ano passado. E dessa vez, a discussão quase foi as vias de fato. Até a polícia foi chamada para “acalmar os ânimos”.
Questionado sobre o motivo do desentendimento entre ambos, o prefeito disse que não iria aceitar esmolas de uma multinacional. E que não compensaria para o município receber cerca de R$ 400 mil reais dos impostos gerados para Ipuiuna, com a extração dos eucaliptos, diante dos estragos que as carretas geram nas estradas vicinais. Ao prefeito, para recuperar só o trecho asfaltado da estrada, já custaria aos cofres públicos cerca de um milhão e meio de reais.
Ouça a entrevista com o Prefeito Elder Cássio de Souza Oliva, com o vereador Reinaldo Franco, que sempre cobrou a contrapartida dos responsáveis pela extração de eucalipto no município e do atual presidente da Câmara Antônio Moreira dos Santos, que também participou da votação do projeto, no ano passado, que revogava, por tempo determinado, a lei que proibia a passagem de bitrens e treminhões pelas estradas municipais.
O funcionário da fazenda não foi localizado para dar sua versão sobre os fatos. Mas, como de praxe, esse órgão de imprensa está à sua disposição, caso ainda queira se manifestar.
A antiga gestão também foi procurada, mas até a data de hoje, não recebemos nenhuma resposta sobre o acordo do ano passado.
Pronunciamento da empresa
Procuramos a assessoria da multinacional que comprou a produção de eucaliptos de Ipuiuna e ela enviou a nota abaixo.
“A International Paper informa que não participou da reunião de 18/01/2021 com os representantes da prefeitura de Ipuiuna. Mesmo assim, a empresa ressalta que segue a legislação vigente e não tem realizado transporte no município enquanto vigente a lei municipal 1.655/2020.
A empresa destaca que realiza atividades de manutenção dos trechos de asfalto e de terra, limitado à rota que percorre no período de transporte, fornecendo serviços, equipamentos e materiais necessários. A empresa também disponibiliza caminhão pipa para umidificar as estradas de terra, visando o bem-estar dos moradores da região. A International Paper destaca que segue mantendo todas as diretrizes de compliance para qualquer relacionamento com órgãos públicos.”